Esses sítios são associados aos antepassados dos povos Guarani atuais, falantes do tronco linguístico Tupi que iniciaram uma expansão territorial a partir da Amazônia Central por volta de 2000 anos AP, chegando no litoral de Santa Catarina há cerca de 600 anos atrás e ocupando a região até os momentos iniciais do processo de colonização. Com uma economia baseada na horticultura de alimentos como o milho e a mandioca, mas também na caça, pesca e coleta, essas populações se assentaram em áreas planas e próximas de fontes de água potável.

Os sítios Guarani que encontramos hoje em dia faziam parte de grandes aldeias, compostas por diferentes áreas de atividade que, dependendo da sua função, podem apresentar tipos específicos de vestígios. A cerâmica vinculada à tradição tupiguarani é o vestígio mais comum, sendo geralmente pintada com temática geométrica e/ou apresentando decoração plástica, como o corrugado e o escovado. É frequente também a ocorrência de material lítico, estruturas de combustão, vestígios faunísticos, manchas escuras no solo que podem vir a corresponder às unidades de habitação e sepultamentos humanos que eram realizados no interior de grandes vasilhames cerâmicos.

Com a chegada do europeu na Ilha de Santa Catarina e seus arredores, as relações entre os colonizadores e as populações indígenas foram se tornando cada vez mais hostis, sendo muitos indígenas escravizados para trabalhar em empreendimentos econômicos. Nesse contexto, o discurso de negação da presença indígena passou a ser uma forma de legitimar o domínio sobre a área, o que é possível observar nos documentos históricos da época.

Escavação Travessão do Rio Vermelho - estrutura de combustão (LEIA)
Escavação TRV (2) (LEIA)

Os dados arqueológicos, porém, mostram que os indígenas sempre estiveram presentes, pelo menos durante os séculos XVI e XVII.  Nesse sentido pode ser citado o sítio Travessão do Rio Vermelho, situado no bairro Rio Vermelho em Florianópolis, que foi datado em 290 anos AP e 370 anos AP, sendo, portanto, contemporâneo à presença européia na área.

DESAFIO 600 (35)

Não se sabe ao certo em que momento as populações indígenas deixaram de fato a Ilha de Santa Catarina, nem quais foram as razões que levaram a isso. Ainda assim, atualmente muitos indígenas Guarani vivem na região, nas comunidades de Massiambú, Morro dos Cavalos e Cambirela, no município de Palhoça; e M’biguaçu, Mymba Roka, Itanhaé e Amâncio, no município de Biguaçu.

Quer saber mais sobre os sítios Guarani já registrados em Floripa? Na lista abaixo você pode conferir uma descrição de cada sítio. Informações sobre a localização, pesquisas, materiais encontrados, entre outras, podem ser verificadas no Mapa Interativo dos Sítios em Floripa.

Sambaqui na margem esquerda do Rio da Lagoa, junto à foz. Nele foram encontrados vestígios cerâmicos Guarani. Foi registrado pelo Professor da Universidade Federal de Santa Catarina, Walter Piazza.

Sítio conchífero raso, escavado por João Alfredo Rohr (1961), o qual identificou duas camadas de ocupação sítio: uma conchífera, mais antiga, e uma mais recente, arenosa, que apresenta vestígios cerâmicos Guarani. O sítio foi intensamente destruído ao longo do tempo, mas é possível que ainda existem vestígios enterrados.

Segundo informações de uma das proprietárias do terreno, Sra. Dalva Gouveia, seu filho teria encontrado no local um vasilhame de cerâmica e alguns cacos cerâmicos (Fossari). Encontra-se bastante perturbado pelas construções levantadas neste terreno (Fossari). Encontra-se destruído, mas é possível observar alguns vestígios (2004). Não foi localizado para vistoria da equipe do projeto Florianópolis Arqueológica.

Trata-se de um sítio composto de materiais líticos e cerâmicos Guarani que foram achados dispersos nas areias das dunas próximas a Praia da Joaquina.

Sítio cerâmico guarani localizado nas Dunas da Lagoa da Conceição logo atrás do posto policial.

Sítio contendo material lítico (núcleos, raspadores, furadores e lascas) e cerâmico Guarani (fragmentos de parede e bordas com tratamentos liso, ungulado e corrugado) sobre dunas, carvão e material histórico (vidros, louças, telhas, cerâmicas, ferro e tijolo). O material coletado encontra-se no Museu de Arqueologia e Etnologia Prof. Oswaldo Rodrigues Cabral (MARquE/UFSC). Os materiais estavam localizados, sobretudo, em áreas circulares aparentemente escavadas, em meio às dunas, que contém um sedimento arenoso de tonalidade escura. Há, também, uma concentração de material entre um cordão de duna e a praia.

 

Trata-se de um sitio litocerâmico sobre dunas, encaixado em cordões de dunas com orientação norte-sul, onde foram evidenciados líticos lascados e polidos (em diabásio, granito, riolito e quartzo), fragmentos de cerâmica Guarani (com decoração lisa e corrugada), além de carvão disperso em superfície, em áreas que apresentam feições circulares (aparentemente escavadas nas dunas) e solo com sedimento arenoso escuro. O material arqueológico coletado está no Museu de Arqueologia e Etnologia Prof. Oswaldo Rodrigues Cabral (MARquE/UFSC).

Sítio cerâmico guarani localizado dentro do Parque Estadual do Rio Vermelho, próximo a sua sede.

Trata-se de um sítio litocerâmico, localizado na porção oeste da Lagoa do Peri, próximo à localidade chamada de Restinga, onde é possível evidenciar materiais líticos lascados e fragmentos de cerâmica Guarani (com decoração plástica corrugada), tanto na margem quanto sob a água. Situa-se no Parque Municipal da Lagoa do Peri.

 

Trata-se de um sítio cerâmico Guarani, localizado nas proximidades da porção oeste da Lagoa do Peri, na localidade chamada de Restinga, onde funcionários do parque identificaram fragmentos de um vasilhame com decoração plástica corrugada– que se encontra parcialmente remontado e exposto na sede do parque – quando da abertura de buracos para plantio de mudas de plantas nativas.

Sítio localizado à nordeste da Lagoinha Pequena, em área onde atualmente existem diversas construções. 

Trata-se de um sítio cerâmico guarani localizado no bairro do Rio Tavares, no lado sul da Lagoinha e próximo ao sítio Lagoinha do Rio Tavares I. Em terreno da União.

Inicialmente registrado como sítio conchífero situado em planície, junto às dunas da praia de Naufragados, onde foi coletado material malacológico e material lítico polido e lascado (percutores, peças polidas em diabásio, um fusiliforme e fragmentos de xisto). Durante as pesquisas da equipe do LEIA não foi possível entrever com clareza a localização do sítio e nem chegar a uma conclusão quanto à sua classificação como sítio conchífero. A equipe registrou somente quatro pontos de interesse com ocorrências isoladas: 1. Barranco com algum material lítico que talvez tenha recebido polimento; 2. Pequena área com presença de fragmentos de conchas, junto às casas e construções de madeira situadas próximas do fim da trilha; 3. Barrancos em que encontramos dois fragmentos de Cerâmica guarani, um dos quais coletamos; 4. Pequena área em que observamos material lítico lascado.

Segundo Rohr, “sobre área de 400 metros quadrados encontram-se esparsos cacos de cerâmica de tradição guarani conchas, carvão vegetal, amoladores, etc.” Fossari descreve da seguinte forma, “assentado sobre terreno arenoso, sobre uma duna fixa por vegetação arbustiva que atravessa a referida ponta, a 5m acima do nível do mar”.

Sítio conchífero, parcialmente destruído pela ação de caieiras, mas ainda apresenta pequenas elevações em relação a superfície atual, possivelmente fora um montículo de grandes dimensões no passado. Está localizado em terreno particular ao lado do Rio Vermelho, na divisa com o Parque Florestal do Rio Vermelho. Fossari (1987) considera os sítios Porto do Rio Vermelho I e II, ambos registrados no CNSA, como um sítio apenas, porém separados por riacho muito estreito. Escavado por Marco Aurélio Nadal de Masi (2001) e datado entre 5000 e 4000 anos Antes do Presente para ocupação de grupos pescadores-caçadores-coletores, e em 900 anos Antes do Presente para ocupação Guarani.

Sítio conchífero com cerâmica Itararé e Guarani situado na porção noroeste da praia da Tapera, sendo limitado pela foz do rio da Êra. Foi escavado por Rohr (1959), ocasião na qual foram revelados muitos sepultamentos, material lítico, ósseo e cerâmico, restos faunísticos e estruturas de combustão. Em sua visita ao local, Fossari (1988a) não conseguiu observar material arqueológico em superfície, uma vez que a área escavada por Rohr já estava parcialmente ocupada por casas residenciais ou coberta por vegetação, porém observou vestígios do sítio em um perfil que margeava o rio da Êra. Segundo essa pesquisadora, é possível que Rohr tenha esgotado o sítio em sua escavação. Em nossa visita ao local tivemos dificuldade em obter autorização para caminhar sobre a área do sítio que permanece desocupada, mas até onde nos foi possível adentrar o terreno, não observamos qualquer material arqueológico em superfície.

Sítio cerâmico guarani identificado no ano de 2013 pelo morador local sr. Maurício. Encontra-se a 570 m do Rio Vermelho (bacia da Lagoa da Conceição), em propriedades privadas, áreas de reflorestamento e edificadas, a céu aberto e em superfície e profundidade. O sítio foi parcialmente escavado pela equipe do LEIA nos anos de 2013 e 2014.

Está em terreno arenoso a 40 m acima do nível do mar, sendo que dele a visão é de 360 graus. Segundo a proprietária do terreno, o arqueólogo alemão Klaus Richter teria efetuado prospecções aleatórias na área do sítio no mês de fevereiro de 1989 e coletado muitas amostras de carvão. Não foi possível estimar a extensão do sítio devido a vegetação arbustiva que cobre o terreno contíguo ao desta proprietária (Fossari 1989).